Almerinda Cunha recebe Prêmio Estadual de Direitos Humanos 2012


ALMERINDA DE SOUZA CUNHA OLIVEIRA





 “Almerinda escapou de morrer no dia “D”, o famoso dia onde a frente do Palácio Rio Branco virou praça de guerra. Alguém morreu no lugar dela pela semelhança física e estar vestida igual a ela. Tudo começou com uma pacífica manifestação dos estudantes contra o abusivo aumento das passagens de ônibus. Maria José, presidente dos Bancários e Almerinda, da Educação, foram socorrer e apoiar a luta estudantil. A força policial reprimiu com violência o movimento, tomando o carro de som, puxando armas, chutando e espancando com cassetetes as pessoas. Os deputados vieram socorrer o movimento, mas também um teve que sacar da arma para se defender. A população ouvindo pela rádio veio pra praça e aí foi o pior confronto. Povo de um lado com pedras na mão e PM do outro com escudo e cassetetes, alguns com fuzil. A polícia civil ficou do lado do movimento. Vítimas caiam no chão. Foi desespero... Chutaram tanto uma mulher pensando que era a Almerinda. Quando a vítima espancada foi procurada no Pronto Socorro pelo Deputado Edmundo Pinto e Almerinda a pessoa tinha sumido. Dois anos depois, dando uma palestra em Plácido de Castro, um policial, que também era professor, informou que a moça tinha morrido e deram sumiço no corpo.”


INSTITUIÇÕES E PESSOAS QUE INDICARAM PARA O PRÊMIO:

1. CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES – CUT
CNPJ: 60.563.731/003788
Endereço: Rua Alexandre Farhat, 112, Bairro Bosque – Rio Branco/AC
CEP.: 69.909-410
Telefone: 3223-5760


2. REDE ACREANA DE MULHERES E HOMENS - RAMH
CNPJ: 63.603.658/0001-08
Endereço: Travessa Primavera, 084 Baixada da Colina – CEP 69907-290
Rio Branco/AC
Telefone: 3224-8607
Endereço eletrônico: redeac@hotmail.com


3. LÚCIA MARIA RIBEIRO DE LIMA – CONSELHEIRA/CDHAC
CPF: 216.842.942-15
Endereço: Rua Luiz Z da Silva/Conjunto Manoel Julião Bl. A3 Aptº 110
Rio Branco/AC
CEP.: 69.918-452
Telefone: 8419-4176



JUSTIFICATIVA DO PORQUE DA INDICAÇÃO:

Da qualificação

Almerinda Cunha, como é mais conhecida, filha de pai soldado da borracha e mãe dona de casa, tem 10 irmãos e irmãs, é casada com o professor Luiz Carlos de Oliveira e mãe de dois filhos. É formada em Pedagogia, com habilitação em administração escolar e pós-graduada em metodologia do ensino superior.
Nascida em Porto Velho/Rondônia, veio para o Acre em 1971, fixando residência no bairro Seis de Agosto, lá vivenciou todas as alagações até 1981, quando casou e mudou de bairro. Durante o tempo que morou na Seis de Agosto, através de grupo de jovens, participou de várias atividades, como quadrilhas, entre outras, visando resgatar e fortalecera importância histórica do bairro com o objetivo de desfazer a fama de que o local era perigoso, etc.
Em 1979 Almerinda passou a exercer o ofício de professora, lecionando para a 2ª série, na Escola Roberto Sanches Mubarac. No exercício da sua atividade profissional foi professora dos dois seguimentos: ensino fundamental e ensino médio, ministrando as disciplinas de ciência e didática.

Das CEB’s:

Almerinda participava do Grupo de Jovens Movimento de Jovens Unidos ao Evangelho – MJUE vinculado às Comunidades Eclesiais de Base, da Igreja Católica,  que recolhia sacolão e nas noites de Natal fazia doações para os ribeirinhos do Igarapé da Judia. Na década de 1970, o MJUE fazia teatro nas igrejas denunciando a invasão dos fazendeiros sulistas.


 Da militância sindical

Em 1979, como professora associada à Associação dos Professores do Acre – ASPAC, Almerinda participava das lutas encabeçadas pela entidade. Na década de 1980 assumiu a presidência da Associação, que até então enfocava suas lutas apenas para a categoria dos professores. A partir de 1982, assumiu a liderança do movimento sindical, transformou a ASPAC em Sinteac e passou a lutar pelo conjunto dos trabalhadores em educação. Neste período as principais bandeiras de luta foram: educação para todos, qualidade da educação, melhores condições de trabalho e de salário.
No auge da luta sindical Almerinda, juntamente com um grupo de trabalhadores, foi demitida, pela Governadora Iolanda Lima que exigiu que o prefeito de Rio Branco, à época, Adalberto Aragão, a demitisse também. Na oportunidade, perguntou o Prefeito: “o que a neguinha fez: Roubou? Matou? Não? Então não demito.”
No decorrer da militância sindical, Almerinda, que foi Secretária Geral da Central Única dos Trabalhadores - CUTrecebeu ameaças de morte e andou escoltada.
Cumpre destacar que por conta da luta sindical, em parceria com Valdomiro, Sônia, Vilma foi criado o primeiro plano de cargos e salários, à época os professores ganhavam menos que as merendeiras. Tinha certificado falsificado, visto que os professores eram indicados pelas autoridades, uma vez que não havia concurso público. Em 1987, o plano foi aprovado, os professores e professoras comemoram com uma caminhada debaixo de chuva, gritando palavras de ordem.
Outra conquista importante foi a luta por gestão democrática no estado para eleição de diretores de escola e inspetores de ensino. Por conta da mobilização sindical o Acre foi um dos primeiros estados a adotar esta prática. O Projeto de Lei apresentado pelo então Deputado Estadual Manoel Pacífico que garantia eleição direta foi votado e aprovado em 1992, mas só foi regulamentado em 1997. Por esta razão a lei foi implementada na marra. Buscando realizar eleições em Feijó, ela foi expulsa do município, sendo socorrida pela Irmã Marita. Em Sena Madureira, visando realizar eleições, ouviu que quem mandava lá era o Prefeito Normando Sales.
Almerinda liderou uma luta histórica pela isonomia salarial dos trabalhadores em Educação, que durou 09 (nove) anos. Ressalte-se que os Trabalhadores da Educação recebiam menos que os demais funcionários do Estado com a mesma formação e o mesmo trabalho.
Almerinda abraçou a luta dos funcionários de escola por direito à faculdade, a exemplo dos professores. O Acre foi o primeiro estado do Brasil a conquistar nível superior para esta categoria.
A luta sindical foi marcada pelo desejo de liberdades democráticas, qualidade da educação, passeata contra a carestia, e solidariedade aos trabalhadores. Momento em que o então governador Flaviano Melo demitiu mil trabalhadores,de uma vez só vez, Almerinda estava à frente das manifestações: acenderam velas, rezaram, fizeram vigílias em frente ao Palácio Rio Branco, etc.
Almerinda Cunha, como militante urbana e cutista, apoiou também a luta dos trabalhadores rurais, participando do Grito da Terra Brasil, colaborando nas mobilizações, fazendo comida para os trabalhadores, durante os acampamentos e comandando a animação, nos atos e assembléia.
Atualmente, apóia a luta e organização das empregadas domésticas na jornada pela ampliação dos direitos trabalhistas.

Das questões de gênero:

Almerinda participou ativamente do Movimento de Mulheres do Acre – MMA, juntamente com Teotista, Sônia Chaves, Maria Lúcia Régis, Ália Ganun, entre outras mulheres corajosas. Hoje ela está filiada à Rede Acreana de Mulheres e Homens, participando assiduamente de todas as mobilizações relacionadas às reivindicações das mulheres. Além de ter ótimas relações seja com a equipe da Coordenadoria Municipal da Mulher de Rio Branco, seja da Secretaria de Estado de Políticas para as Mulheres.
A luta pelo fim da violência contra a mulher veio junto com a luta sindical, ocasião em que o Capitão Diomedes matou a ex mulher, que era filha da D. Gislaine Salvatierra, representante do núcleo da Secretaria de Estado de Educação em Brasiléia, o capitão ficou impune, ao mesmo tempo outras mulheres foram assassinadas, como a Lucibete, no Banacre, Raimunda Balbino, entre outras, o movimento sindical organizou várias passeatas pedindo o fim da impunidade. Nesta época estava em vigor o fundamento que tentava justificar o homicídio das mulheres: “matou em legítima defesa da honra.”
Em seu primeiro casamento Almerinda foi vítima de violência doméstica e psicológica. Às vezes o marido amolando a faca dizia: “esta faca não é pra mim, não.” Sofreu maus tratos, ameaça de morte, etc. Os motoristas do Sinteac não queriam dirigir o carro com medo do ex-marido dela que fazia gestos de disparo de revólver. Muitas vezes, durante as manifestações, ela estava em cima do caminhão/palanque discursando e o marido fazendo gestos ameaçadores em baixo. Por várias vezes, as colegas dirigentes do Sinteac a protegiam com o corpo, fazendo cordão de isolamento, após as manifestações sindicais e políticas. Foi necessário colocar uma grade de ferro na sede do Sinteac para protegê-la e as demais dirigentes.
Almerinda é militante da causa de combate à violência contra a mulher e construindo novas relações de gênero na educação. Por isso faz palestras e seminários e organizou, juntamente com outras, a apostila: “Trabalhando gênero na escola”, que foi reproduzida e encaminhada para as escolas da rede de ensino.
Realizou através do FPEER/AC e SEPMULHER 02 (dois) seminários de gênero e raça orientando as escolas nessas temáticas.

Da promoção da igualdade racial

Almerinda Cunha se aproximou do movimento de promoção da igualdade racial e combate ao racismo, iniciadono estado do Acre em 2003, sendo ampliado em 2005, quando assumiu a coordenação do Coletivo de Combate ao Racismo do Sinteac e da CUT. Em 2008 foi criado o Fórum Permanente de Educação Étnico Racial do Estado do Acre, com atuação em vários municípios do estado. Várias atividades foram realizadas tais como: Seminários, Palestras, Semana da Consciência Negra, (festa da Kizomba, mobilização das escolas, produção de material).
A partir da criação do Fórum Permanente de Educação Étnico-Racial - FPEER, em 16/06/2008, foram realizados seminários, cursos, formação, oficinas pedagógicas: bonecas étnicas para orientar a educação; cabelo afro para elevar a autoestima da população negra; sensibilização através da música afro brasileira, jogos matemáticos para ajudar as crianças na aprendizagem; capoeira;literatura infantil, contos africanos.
Produziu, em parceria com outras pessoas, material didático: “Quinzena da Consciência Negra”, essa apostila orienta como trabalhar o preconceito racial, desconstruindo o racismo.
Cumpre destacar a realização de 04 encontros da mulher negra e 02 encontros de mulher indígena para refletir sobre a condição das mulheres do ponto de vista da raça e etnia.
Destaque-se, ainda, a luta no plano estadual, para a criação do Comitê Técnico de Saúde da População Negra a fim de chamar a atenção das autoridades e da população para as doenças com maior incidência sobre a população negra, neste sentido vale ressaltar os diálogos travados com a Secretaria de Estado da Saúde para a realização do exame da anemia falciforme.
Convém acrescentar que a participação de Almerinda foi fundamental para a criação do Comitê Gestor de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de Rio Branco, criado, em 2011, para trabalhar as questões de promoção da igualdade racial e combate à discriminação.

Dos Conselhos de Direito:

Integrou o Conselho Estadual de Educação por 04 anos e o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher.
Recentemente Almerinda Cunha foi eleita a primeira presidenta do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Rio Branco, criado em 2012.

Da participação política

Almerinda Cunha foi filiada ao PMDB e posteriormente ao PT, ocupando hoje o cargo de Secretária Estadual de Combate ao Racismo. Foi candidata a Deputada Estadual em 1989 e 1992 e não foi eleita,talvez porque disse que se fosse eleita botaria os assassinos de mulheres na cadeia.
Por fim, Almerinda Cunha é a encarnação da música Maria Maria, de Milton Nascimento:

Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece
Viver e amar
Como outra qualquer
Do planeta
Maria, Maria
É o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que rí
Quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta
Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida....
Conceder a Almerinda Cunha o Prêmio Estadual de Direitos Humanos 2012 é reconhecer que a luta dela, que também é de todos nós, vale a pena.

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